Uma pobre senhora solitária de Goiás foi vítima de um falso Elon Musk em um golpe que misturava namoro à distância, automutilação e transferências para abastecer um jatinho do pobre bilionário. Durante sete meses de conversa, ela fez empréstimos consignados, vendeu o carro e quase negociou o próprio imóvel para ajudar seu amadinho. Mandou suas economias pro espaço e só não ficou sem teto porque o filho interveio e confiscou o telefone. Em entrevista, ela defende com convicção quase delirante que o relacionamento era verdadeiro, uma fé cega que só os apaixonados ou os loucos conseguem ter. A gente ri e quase se desespera com o absurdo, mas ela foi vítima de um estelionatário, assim como a sociedade foi vítima das big techs. Com uma diferença: no nosso caso, fomos enganados por elas mesmas. Ou nós nos enganamos sozinhos? The joke is on us!
🤡 Ninguém do Vale do Silício vai nos salvar de buesta nenhuma
Quando a Suprema Corte dos EUA, a suposta “maior democracia do mundo”, em 2015 finalmente reconheceu que LGBTI+ tinham direito ao casamento igualitário (e ao divórcio) em todo o país, o Facebook aderiu a mobilização digital em celebração da conquista com Celebrate Pride e usando a hashtag #LoveWins, que viralizaram com a ajuda do reptiliano-chefe Mark Zuckerberg. Com a benção do gênio tecnológico do momento (Steve Jobs já estava morto há quatro anos, e Elon Musk ainda focava em foguetes antes de entrar em um keyhole e nunca mais sair), marcas, personalidades e entidades entram na onda. Algumas marcas até descobriram que tratar minorias como gente pode ser um negócio lucrativo (como explicar, por exemplo, que um país com 50% de população negra tivesse pouquíssimas ofertas de maquiagem para essa parcela da população 10 anos atrás?).
Era performático, mas era um começo. Parecia promissor. Parecia a internet sendo usada para seu fim idealista de causar impacto positivo na sociedade. Mas bastou uma inflação de 9,1% e uma guinada conservadora para toda essa inclusão performática virar purpurina. Nem o filtro temático pra chat escapou. O tema orgulho virou arco-íris. O trans, algodão doce.
Quem falar que o debate diz respeito a liberdade de expressão tá mentindo pra você
Meu maior problema com a cobertura sobre o tema big techs e guinada à direita da patota do Zuckerberg é como algumas pessoas permitem ser usadas como reprodutoras de release. Qualquer pessoa que trate do tema priorizando a marmota sobre defesa da suposta liberdade de expressão, deixando em segundo plano os interesses comerciais e legais ou até omitindo-os em alguns casos, está enganando. Desinformando. Não há meio termo. É possível ser crítico da maneira como o STF conduz inquéritos, de decisões do Moraes sem abrir mão da hierarquia e olhar crítico sobre a movimentação das big techs. Tem muito pouco a ver com a defesa de direitos individuais de brasileiros e muito a ver o receio de perder o modelo de negócio onde possuem toda a concentração de poderes com poucas ou nenhuma responsabilidades.
O alinhamento dos gigantes tecnológicos ao trumpismo (até a arrombada da Bytedance do TikTok beijou o anel) é tático para formar uma coalizão contra os avanços regulatórios da União Europeia e, olha só, do Brasil. Você acredita mesmo que a Meta deseja uma regulação no país que tem 2 celulares por pessoa e com o segundo maior tempo de consumo de telas do mundo? A prisão do Pavel Durov, fundador do Telegram, abalou o psicológico de muitos marajás digitais, que se consideram intocáveis e acima da lei. E agora Luigi tá preso, né?
Aproveitando o tema cobertura, eu nunca vi um esforço tão patético de certos comentaristas políticos para desmentir o sieg heil gesticulado por Musk durante a posse do Trump. A não ser que todos eles estejam dormindo com o Musk pra saber dos seus pensamentos íntimos e nós não sabemos, pelo factual, havia muito mais motivos para identificar o gesto nazista que o contrário. Musk é cabo eleitoral do partido de extrema-direita da Alemanha repleto de, adivinhe, você tem uma chance. Com a defesa da liberdade de expressão irrestrita por ele no X, perfis neo nazis não só floresceram, como ganharam alcance nunca antes visto e são verificados e monetizados. Um quadrúpede com todo o elã de crítico do método Paulo Freire, daqueles que dão como mato no X agora que o mestre dos burros deixou o relincho liberado, chegou a cogitar que o Elon não saberia que o gesto é nazista. Que pouca gente sabe. Que como ele estudou antes da internet, não teria como ele saber. Tenham dignidade.
Às vezes, essa tentativa desesperada de ser o fiel da balança, a voz centrada no debate só te deixa parecendo um tapado mesmo.
E se a violência verbal se tornar física?
Meu maior receio com as mudanças na moderação do Facebook (basicamente, agora pode postar homofobia, racismo e misoginia à vontade, tudo em nome da “liberdade de expressão”) nem é o fato de que as redes vão virar um pântano ainda mais lodoso. Qualquer pessoa com Tiktok que ouse ler os comentários de certas postagens já percebeu um certo comportamento de huehuebr, onde crime ocorre nada acotece feijoada que demonstra que a tolerância para esse tipo de nojeira está se ampliando.
A Meta e Mark Zuckerberg agora não apenas permitem e incentivam, mas também participam de discursos de ódio anti-LGBTQ. - GLAAD
É quando o digital começar a influenciar o mundo real. Porque uma hora vai. E ainda bem que essa preocupação não é só minha, ou seria classificada como mera paranoia, mas compartilhada por especialistas. Pense comigo: se um homofóbico de merda vê um dos maiores magnatas digitais dizendo que seu discurso é permitido na plataforma, ele estará equivocado ao encarar isso como um validador moral? E quando a violência verbal se transformar em física? O que eu sei é que, como sempre, quando der merda, a Meta dirá que não tem nada a ver com isso. Como disse não ter com o genocídio dos Rohingya em Myanmar, a invasão ao Capitólio, o aumento da violência no Sri Lanka contra muçulmanos, o aumento de grupos antivacinas etc. Ele é um santo. Ele não tem nada a ver.
O bode expiatório da vez
Pessoas trans representam cerca de 1% da população americana, pouco mais de 3 milhões de cidadãos. Ainda assim, 41% da campanha de Trump foi dedicada a atacá-las. Por quê? Porque o fascismo (é fascismo, gente, pode usar a palavra sem medo de gastar) precisa de um alvo para mobilizar a base e justificar seu autoritarismo. Judeus. Negros. Gays. Trans. Não importa o alvo, mas é preciso ter quem culpar. Nos EUA, há um novo alvo: políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão, as DEI. Resumindo, todas as minorias em um só pacote.
Veja, acontece uma caceta de acidente aéreo entre um avião e um helicóptero e a abóbora de peruca não pensa duas vezes em apontar como alvo as políticas de diversidade e inclusão, enquanto ignora que ele mesmo congelou contratações e desmantelou comitês de segurança da aviação. É correto dizer que o acidente foi causado pelas ações do Trump? Não, né? Mas entende como o outro lado não gasta um grama de caráter para se poupar de acusar os adversários dos maiores absurdos?
Serão quatro anos disso. Boa notícia só para o editor da Globo News, que já não tinha mais o que espremer pra manter os jornalistas esquentando as poltronas com as pautas mornas de Brasília. Força, Natuza, Andreia, Flavia, Dani e todas as meninas, vocês vão precisar.
E nós?
Uma regra que antes renderia, no máximo, papo entre contadores e advogados tributaristas usada de forma mentirosa foi o bastante para acentuar a queda de reprovação do governo e até reduzir o número de transações via Pix. Pasme: robustos 15% de queda em transações via Pix causados pela histeria coletiva. Um sinal de alerta fortíssimo para quem insiste em menosprezar o poder das redes sociais em um país que, repito, possui o segundo maior consumo de telas do mundo, ficando atrás apenas da África do Sul.
No meio desse buruçu todo, destacou-se o vídeo do Nikolas Ferreira surfando na pauta. Da minha parte, para que não restem dúvidas, deixo bem claro que eu desprezo esse creiço que reúne todas as características que eu abomino em uma pessoa em um só ser.
Mas o vídeo em si? Oposição fazendo papel de oposição, tanto é que revogaram, né? O vídeo é tão dissimulado que abria com “o governo não vai taxar o Pix, MASSSSS…” e partia pra descer o sarrafo. Gostemos ou não, é do jogo. Faz parte.
E aí tá o problema: o campo progressista, como um todo, ainda tá confortável pra ficar nesse barata voa toda vez que surgir uma pauta negativa, é? Coragem. O que eu soube dos bastidores dessa história é de corar o rosto da pessoa com mais boa vontade do mundo. Não vou falar, mas saiu matéria sobre o tema em veículo “independente” (odeio essa palavra) relatando e foi aquilo mesmo. Mais uma vez, um menosprezo pelo poder dos micro desgates, pelas pequenas crises, pelas pequenas cuspidas ao alto que acabam caindo em nossas caras. O principal argumento para aguçar a desconfiança da população com a taxação do Pix foi ou não foi a conclusão da saga da taxação das brusinhas? Fica a reflexão. Nem tudo é algoritmo, big tech, conspiração, problema de comunicação… Às vezes o culpado tá na sala, entre a mesa e a cadeira, sabe?
E se você está confortável com isso, te dou um dado: Lula segue o favorito na corrida eleitoral de 2026. Beleza. Essa pesquisa foi festejada, mas omitiram um detalhe fundamental: de acordo com ela, ele vence os adversários Tarcísio e Ghusthavvho Lima (puta que pariu) com 10% de diferença. Pesquisa com dois anos de antecedência dificilmente trará um retrato similar ao resultado final, mas aponta tendência. E ela não tá boa, não.
Sim, eu tô me preocupando horrores. Acho que deu pra perceber. Você também devia. As eleições de 2026 serão duríssimas. E nem falo da presidencial. Temos uma organização de pelo menos seis anos na extema-direita se preparando para tomar de assalto o Senado Federal. Lembre-se, em 2026, ⅔ da casa serão renovados. Tá achando ruim agora? Pode ficar pior. Impeachment de ministro do STF pode ser o menor dos nossos problemas. Você tem visto conversas sobre isso? Sobre a necessidade de uma nova frente para lá de ampla para impedir esse avanço autoritário dentro do Senado? Garanto a você: do lado deles, eles falam todo dia.
Mas quem sou eu pra falar qualquer coisa? Sou só uma Smurfete palhaça de chapéu. Foda-se eu.
Por hoje é só, pessoal
Participei mais uma vez do podcast Viracasacas, dessa vez ao lado de minha parceira de assalto Marie Declercq falando sobre as terríveis big techs e ate do Ridley Scott.
Eu adoraria indicar um livro fantástico, fundamental para quem deseja debater com propriedade sobre big techs, regulação e a suposta liberdade de expressão. A leitura de A Era do Capitalismo de Vigilância, da Shoshana Zuboff, amadurece a discussão em uma só tacada nos apresentando conceitualmente como essas grandes corporações concentram riqueza, poder, influência, tudo isso sem nenhuma regulação e como nós, meros cidadãos, estamos completamente desprotegidos. Por mim, toda pessoa que ousasse abrir o microfone na rádio ou TV para falar do assunto precisaria provar que o leu, nem que seja pra discordar.
Só tem um problema: ele está esgotado. Digo, até há na Amazon para vender custado a bagatela de R$ 800 Janjas. Mas eu tenho certeza que você, uma pessoa descolada, antenada, sedenta por conhecimento, por saber, por leitura, vai dar os seus pulos para apreciar essa obra. E não estou falando em tirar um consignado para comprar um livro. Entendesse?
Anna's Archive Google pesquisar, entendesse?
Verdade é que tem q largar a mão dessa ala social-democrata pq eles estão levando toda a esquerda para o buraco. A social democracia insiste em defender o neoliberalismo sendo q a nem a direita defende mais. No mais, fiquei curioso para saber qual é a matéria q vc mencionou sobre as trapalhadas do governo na comunicação em responder a fake do pix.